a cueca e a vida a dois

Logo que cheguei no circo, minha vida começou a mudar em muito aspectos: eu nao teria mais UMA casa, eu nao teria mais MEU médico, eu nao iria mais no MESMO supermercado, eu nao saberia "muito" mais sobre a cidade que estaria vivendo, meu armário viraria minha mala e, nao bastando tudo isso, eu estava tendo minha primeira experiência de dividir casa com meuuuuuu...hummmm... namor... irido! Nao adianta, juntou as escovas de dente, bummm: é marido. Sim é marido, ajoelha e reza!

Deus, era muita informação de uma só vez para uma pobre terráquea! 

Um belo dia, quase dois anos atrás, no começo de toda a "fulga com o circo", eu estava em Quebec City  (nossa segunda cidade em turnê, juntos) e resolvi lavar minhas roupas. Ah sim, porque até aqui nós tínhamos cestos separados de roupa, cada um colocava suas roupas para lavar!

Peguei meu cesto de roupas, saí pela porta, passei pelo patio, vi um monte de esquilinhos tao bonitinhos, cumprimentei as pessoas no caminho e cheguei a lavanderia. Coloquei a moeda na máquina (para que funcione), abri o cesto e fui colocando minhas roupas na máquina: uma saia, duas calças, quatro pares de meia, três camisetas, duas camisas, uma cueca, uma.... ops, o que???? uma cueca??? UMA CUECA NAS MINHAS COISAS, socorrrro!!!! O terror tomou conta de mim como nunca havia tomado, o meu sangue subiu para a cabeça, fiquei vermelha, nao sei se de vergonha ou de raiva, parecia que todas minhas certezas tinham se acabado naquele momento. Como assim, uma cueca nas minhas coisas??? Eu fui lentamente escorregando pela máquina de lavar até sentar no chao, claro: com a cueca na mao. Olhei outra vez para a bendita como se estivesse encontrado a prova de um crime horrendo acontecido sei lá eu quando sei lá eu onde, por sei lá eu quem. Mas era a prova viva, real e clara!

Sentei.

Sentei e pensei em minhas conviccoes. Pensei no que havia falado: nunca lavaria uma cueca de homem nenhum! Imaginava que essa cena deveria ser a mais triste na vida de uma pessoa!!! Estava aterrorizada. 

Mas tudo isso foram questões de segundos, até o momento em que pensei: E isso é tao horrível assim? É tao horrível quanto eu pensava? Porque estou fazendo tanto drama por causa de uma cueca? Fala sério, é só uma cueca! Eu sou mais forte que ela! hahahaha!

Caí numa gargalhada só. Sozinha, rindo com uma cueca na mao e praticamente falando com essa cueca, porque tudo que pensava dava para ser visto na minha cara. Depois de 50 segundos de tensao, porque foi o que durou isso tudo, eu nao cabia mais em mim de tanto rir!! Botei a cueca na máquina de lavar, e pensei: caramba, isso é mais fácil que eu pensava!! Continua sendo a mesma Fabiana, com as mesmas convicções, mesmo tendo colocado a cueca para lavar!! 

Aé, casar é juntar escova de dente? Que nada! Casar é encontrar uma cueca perdida no meio das tuas roupas! Aí o amor concretizou, hahahah! O encontro da cueca é praticamente um divisor de águas na vida de uma mulher. Um divisor de água de deixa bem claro: agora minha filha, passaste para o lado de lá!

E hoje? Hoje temos uma cesta roupa para os dois, o que deixou nossa vida mais prática e rápida, sem pré-conceitos, sem julgamento feminino ortodoxo, mas com a leveza pesada da vida a dois!

Às vezes eu penso que, em vez de colocar uma aliança no dedo na hora do casamento, deveriam colocar uma cueca no cesto de roupas da mulher e perguntar: Você aceita este homem como seu legítimo esposo para.... quem sabe um dia! Ou pelo menos trabalhar este momento no cursinho de casamento, sei lá!

Entre amor, cuecas e sutias, a gente vai levando...!

A fofoca na pequena cidade!

É incrível pensar que, apesar de estarmos constantemente viajando, vivemos em uma pequena cidade.
Como?

Nossa cidade é formada por, mais ou menos, 110 pessoas. Esse é o número total de pessoas que viajam com o circo. Então, apesar de estarmos agora em Seul, continuamos sendo aquela pequena cidade dentro da grande cidade. Por quê?

Porque nossos vizinhos são as pessoas do circo, quando vamos ao supermercado encontramos com um deles, quando vamos à farmácia encontramos outros deles, quando queremos sair de casa e não pensar sobre o circo, bummmm! No elevador ali estará te esperando o teu colega de trabalho e a namorada!

Ou seja, não tem como fugir. Se foge com o circo, mas dele não tem como escapar! De uma maneira ou de outra os amigos acabam sendo do circo, as notícias acabam sendo em relação ao circo, as festas com o pessoal do circo e a fofoca, ahhh a fofoca é constante e interminável!

Já ouviste falar que numa cidade pequena geralmente as pessoas sabem todas uma da vida das outras? Pois aqui, uma cidade de 110 habitantes, impossível não rolar fofoca.  
E o fato da galera não ter muitas redes de relações acaba fazendo a língua rolar solta e a imaginação criar coisas incríveis!

Lembro que na outra turnê aconteceu o seguinte fato: eu entrei na sala no diretor para falar com ele sobre alguma coisa, que agora não lembro o que era, e alguém me viu conversando com ele. VIU, não escutou. No dia seguinte duas pessoas vieram me perguntar se o trabalho que estava em aberto seria meu. E eu perguntei: o que?
Como assim se o trabalho é meu?
- “É porque ontem tu estavas falando com o diretor e alguém te viu saindo da sala dele...”
E?????

Eu poderia estar falando sobre mil e uma coisas, mas a imaginação das pessoas é capaz de criar algo tão grande e tão bem elaborado que às vezes me dá um pouco de medo!
E para não passar batido, uma segunda pessoa veio me perguntar a mesma coisa, ou seja, além de inventar a fofoca, alguém passou adiante e no dia seguinte muita gente sabia. Ah, tá de brincadeira comigo!

Apesar de termos passado por Nova Iorque, Washington, Seul, Taipei, São Francisco, Montreal, as pessoas aqui são quase sempre as mesmas. Algumas não conseguem aproveitar e evoluir com as viagens e acabam imersas nesse mundo circense que, se não nos cuidamos, nos coloca da corda bamba sem rede de proteção!

Balança, balança e cai na língua do povo!!

onde eu moro? parte 2.

Tudo é sempre diferente, tu já pensaste em ter um novo endereço a cada 6 semanas?
Peraí:
-novo endereço
-novo telefone residencial
-novo CEP
-novo porteiro
-novos vizinhos
-novo tudo

Nossa vida é uma constante mudança. 

E claro que é difícil adaptar-se a tudo isso. Um dos sintomas constante que tenho, e que muitas pessoas que vivem aqui tem, é o seguinte: acordar pela manha e ficar uns 10 segundos pensando onde está. "Onde estou?" Olhar ao redor e não ter nem idéia de onde estás. 
Parece louco, nao?
É um sentimento completamente estranho. Uma ansiedade gigante! Parece que o cérebro nao consegue acompanhar as mudanças constantes de quarto! E ele nao reconhece mesmo.

Nunca pensamos sobre isso porque moramos sempre no mesmo lugar: a janela está sempre na direita, a porta um metro e meio da cama, a luz de cabeceira do lado esquerdo e a gente deita pelo lado esquerdo também, às 7hs da manha começa o barulho do tráfego, o sol aparece as 6hs, o cachorro da vizinha sempre me acorda às 5hs...

Dá pra imaginar como fica a nossa cuca quando tudo muda tanto? Pobre, acorda desorientada, sem ter um ponto de referência para pensar "estou aqui". Pois sim, temos nossos pontos de referência e nem nos damos conta.

Tudo que era automático, passa a ser mecânico. É necessário PENSAR para fazer todas as coisas que eram automáticas. É necessário "pensar para acordar". Já imaginaste? A primeira vez que senti isso pensei... "estou ficando louca", mas depois comecei a dividir isso com alguns amigos que disseram: "isso sempre acontece comigo!". Tu não tens noção dá tranqüilidade que estas pessoas me deram, sem ao menos perceber!

Não esquece que a cozinha muda completamente também! Onde está o sal? as panelas antes estavam em cima no armário da esquerda, agora estao em baixo no armário da direita! Sal, massa, arroz, feijão (se existir onde estamos)

Lembra aquela sensaçao de quando começamos a dirigir? Aquela dureza toda, nao querer escutar nem música pra poder concentrar na hora certa de fazer a marcha, quando ligar o pisca, quando parar ou andar... então, agora imagina dirigir constantemente assim, quando aquelas coisas que deveriam tornar-se automática, nao sao.

Nós perdermos muito tempo com as adaptações, e isso pode ser bom ou não. Não é bom porque para quase tudo levamos o dobro de tempo e gastamos o dobro de energia. É bom porque vamos aprendendo e conhecendo diferentes maneiras de lidarmos com situações tão cotidianas e tao automáticas!

Depois de dois dias tudo muda. Nosso cérebro já se acostumou a ver a janela do lado tal, a porta do lado tal, a cama em tal direção e, aos poucos, vamos nos adaptando e testando os vizinhos... se eles fazem barulho e, o principal, quanto barulho eles estão dispostos a escutar. Porque a gente adora fazer festas na nossa casa e convidar os amigos pra escutar uma boa música! Ah, e claro, para uma boa feijoada, porque até 4 meses atrás nós tínhamos uma panela enorme na turnê, era uma mala apenas para coisas da cozinha.  :)

Com essa função toda do automático virar mecânico, um dia me peguei pensando no movimento de nossa língua quando comemos. Já paraste pra pensar nisso? Então tenta, a língua sincroniza total com a comida! O corpo humano é incrível, mas apesar disso, ainda não conseguiu a se adaptar 100% a vida em turnê... como quase nada é adaptável a ela...

vou falar mais sobre isso...

onde eu moro?

ADAPTAÇAO.

Adaptação constante a tudo, a todos, porque tudo é sempre novo, e quase tudo é sempre diferente.
Não entendeu? Então, é assim que começamos, sem entender nada e achando que sabemos tudo!
Afinal de conta, fugir com o circo é o sonho de muita gente! Mas viver no circo é um constante aprendizado.
Para começar: mudamos de cidade ou de país a cada 6 ou 8 semanas.
Ou seja:

-cursos
-médico
-academia
-associar-se a qualquer coisa
-raíz
-farmácia
-salao de beleza (luzes!)
-escola
-faculdade
-costureira
-qual restaurante ir?
-meu computador estragou, onde levar?
-onde é o consulado?
-que endereço residencial vou registrar do Banco?
-qual é meu endereço?
-qual o melhor sabao para máquina de lavar?
essa é apenas uma pequena lista de perguntas ou necessidades que fazem parte do nosso cotidiano.

"Como assim tu não sabes onde moras???" Essa foi a pergunta que a mulher horrenda e cruel que trabalha no setor de informações do metro de São Francisco me perguntou. E porque uma pessoa não sabe onde mora?

Porque tá louca! Claro!

Não. Não é claro.

Existem outras opções, como por exemplo: porque ela vive em turnê e porque ela acabou de chegar na cidade e ainda não conhece tudo. E mais: Ela não sabe onde fica a farmácia, o supermercado, onde arrumar o computador, não sabia também que o supermercado tinha um cartãozinho de desconto incrível, não sabia  que o metro que passava na frente da casa dela não faz o mesmo caminho de volta e não sabia que ia encontrar uma horrenda ridícula que gritava perguntando: "Como assim tu não sabes onde mora???"

A mulher gritou no microfone umas 5 vezes a mesma frase. Meus olhos a queimavam inteira, porque as pessoas passavam e olhavam pra mim com uma cara... Minha vontade era dizer: "mexe essa bunda redonda dessa cadeira e busca um mapa pra me ajudar! Aliás esse é teu trabalho!!".

Mas como eu sempre tenho o endereço de onde estou morando, mostrei pra ela que me disse: "onde que fica essa rua? que rua é essa??" e eu olhei pra ela, pensei (agora é minha vez) e falei: "Como assim tu não sabes onde fica essa rua!! É teu trabalho!!" Ela fechou a cara e eu fui embora.

Peguei um táxi e cheguei em casa. Fui pro computador do Fabri estudar o transporte público de Sao Francisco e procurar um lugar para arrumar meu computador (sim, porque meu computador estava estragado e nao tinha nem idéia de onde mandar para arrumar.)

Fala sério.
... continuação da postagem anterior ...

Depois de um tempo fomos descobrir como funciona a cultura deles, que realmente precisam ter uma confiança maior para sair por aí abrindo sorrisos, dando "oi´s" e trocando idéias. Eles são mais fechados que todos, e aposto que quando eles topam com nós brasileiros (que somos só sorriso), eles pensam: "esse aí esta querendo me comer" ou "essa aí é assanhada!"  hehehehhe!!


Pra fechar com chave de oro: a melhor maneira de ficar amigo de um russo é convidando para tomar vodca contigo! Quero dizer, tem que aguentar a barra porque vais beber bastante! Eles vão virar teus melhores amigos! Nem que seja por aquela noite, porque no dia seguinte, eles voltam a fechar a cara!



Foi assim que fiquei amiga delas. Um dia que todas bebemos juntas na casa de uma das mulheres do circo e falamos de tudo! No outro dia estavam tímidas, mas comecei a ter muito mais contato com elas! E claro que a maneira que eu lhe dava com as crianças, com as delas também, fez a gente se aproximar! Porque eu estava sempre brincando com as crianças.

Final da história: em uma das últimas festas que fizemos, no nosso apartamento, escutei a campainha tocar e, quando abri, um dos russos perguntou se eu aceitava uma máfia russa na minha casa, e eu disse: claro que sim! sejam bem-vindos! Entraram, mais ou menos, uns 8! Eles estavam todos escondidos nos corredores e foram aparecendo um por vez! Confesso que foi um dos momentos históricos da nossa vida nessa turne, hahahah!! É complicado, sim, é complicado, mas a gente só ganha quando dá espaço para outras culturas entrarem nas nossas vidas. Isso nos ajuda a sair da volta do nosso umbigo e aceitar mais o outro, com suas diferenças e pensamentos. E eu amo isso. Esse é um dos motivos que me fazem, ainda, estar viajando!


Agora a escolha é tua, ou fecha cara, ou abre a cabeça!
Seguindo no assunto das diferenças culturais (que diga-se de passagem, vai dar pano pra manga nesse blog).

Todos os brasileiros estavam de cara com os russos. "Cara, eu trabalho contigo, que história é essa de não cumprimentar?". Eles falavam que era assim todos os dias. Mas o que que é isso, pensei eu? Eu pensei que era só comigo, porque era nova por lá e eles não tinham nem idéia de quem eu era. Não, era sempre igual, e com todos.

Aí a gente começa a tentar explicar tudo. Tenta pensar na história que os caras tiveram, tenta pensar no que eles passaram com um governo que marcava cerrado, pensa isso, pensa aquilo e acaba dando desculpa que nem nós acreditamos mais, mas... vamos lá, estamos tentando entender.
....
Passam-se meses e eles não modificam. Eles continuam exatamente igual. Preciso dizer que tem exceções, mas não são muitos, de vários que trabalham no circo. Não podemos esquecer que muitos estão com suas famílias, mulheres, filhos... e que não deixam de ser igual.

Pensei comigo: vou fazer de tudo isso um teste. Me coloquei a prova pra ver "qual é que era". Primeiro de tudo: comecei a modificar meu jeito "toda simpatia" de ser. Porque? Pq isso poderia estar sendo o "choque" com eles. Se tem uma coisa que aprendi com as milhas que percorri foi: quer conhecer uma cultura? Pois faça parte dela, entre nela e tente captar o que vês com os olhos deles, e não com os teus.

É mais ou menos como cantar. Eu tento conhecer a história daquela música, ver em que época foi criada, por quem, qual situação, para poder interpreta-la melhor. Com as pessoas de outras culturas é a mesma coisa. Uns olham para as árabes cobertas por seus véus, durante o verão e dizem: calor! eu olho e digo: cultura! E foi a isso que me propus: vou tentar me aproximar deles a medida que eles forem abrindo caminho. Eu e o Fabri falávamos muito sobre isso, a sorte é que, por nossa experiência de estar há dois anos vivendo fora do Brasil, tínhamos a mesma visao e a mesma idéia sobre o assunto.

Me lembro que um dia alguém comentou com a gente sobre todo esse lance com os russos. Essa pessoa estava P*$%· da cara. O Fabri falou: Che, eu entendo o que tu me dizes, mas tenta entender o lado deles... já pensaste que cada vez que tu passas por eles e abre aquele sorrisão para cumprimentar eles devem pensar: "olha esse cara aqui todo se abrindo, deve estar querendo me comer!" e era isso mesmo! quero dizer, não sei se era isso que eles pensavam, mas era como se fosse! 

essa história CONTINUA na próxima postagem (que é a de cima :) ...

a cozinha

A cozinha é o ponto de encontro e de descanso do pessoal. A idéia é que seja como a cozinha da nossa casa, lugar pra comer, conversar com os amigos... eles tentam contemplar todas as culturas, ou seja, tentam fazer comidas típicas dos diferentes países da galera que trabalha lá. Eu já comi feijão e pão de queijo. Aliás, o pão de queijo que eles faziam lá era bom mesmo!

Tem também um espaço com sofás, uma estante de livros, computadores, jogos para as crianças, mesa de pebolim... tudo pra ficar em casa.

na primeia apresentaçao de cada cidade, a chamada "Premiére", eles fazem um jantar especial. Geralmente é uma delícia e muita comida, humm! Depois que termina o show tem a "festa da premiere", onde a galera bebe pra caramba, então, no dia seguinte, eles fazem "junk food", ou seja, hamburgers, cachorro quente, batata frita... pra ajudar na absorção do álcool! heheheh! Isso não é regra, mas acontece bastante!
Outra idéia é provar temperos e comidas típicas dos lugares em que estamos morando. Por exemplo, em Boston lagosta é um prato super famoso (frutos do mar, em geral) então na janta da Premiere teve lagosta, ostras e frutos do mar no geral.

Eles estão montados sobre três caminhoes que abrem os lados e, assim, montam a cozinha. São de três a quatro chef´s que seguem com o circo e o resto do grupo é contrato como temporário em cada cidade. (isso tudo pode modificar de turnê para turnê). Todo domingo rola "brunch" e quase todas as famílias vem para o site comer e interagir. É o dia "da família" no circo, por mais que todos dias podemos comer e estar por lá! 

A cozinha é o lugar onde ficamos para encontrar e conversar com os amigos. Onde damos boas risadas, onde escuto as coisas boas, as fofocas, onde falamos besteira e onde espero pela galera enquanto eles estao fazendo o show. Eu, sinceramente, tenho um certo encanto pela cozinha. Depois que o tempo passa e já conheces todo mundo, é uma sensaço muita boa cada vez que entramos lá.

a chegada

foi linda!! ele me esperava no aeroporto com flores, e quando me abraçou, chorava como uma criança! quér coisa mais sensível? eu me derreti :). E tem mais, o Festival de Jazz de Montreal ia começar! ô deus! Eu estaria no Festival de Jazz de Montreal!!!!!!!!! Nada, absolutamente nada, mais romântico! E nada mais especial para preencher o tempo que eu teria livre. Já tinha todas as manhas ocupadas com o curso de inglês. Oui, inglês em Montreal :)

Uma das primeiras coisas que notei, quando cheguei foi: meu inglês está uma verdadeira mer*$%·%! Fuck! Eu nao conseguia falar uma frase! Palavras soltas até iam, tranquilo, mas como eu poderia coloca-las em ordem saudável para formar uma simples frase?? God, eu ia denpender do Fabri para algumas coisas que nao tinha me dado conta que iria depender. Comprar um telefone, por exemplo. Fazer pesquisa para ver que telefone comprar... esquece, ele nao teve paciência para isso. Mas enfim, tudo isso ia sendo contornado com a minha ansiedade de conhecer a galera do circo.

Dia 1 no circo: Primeira coisa a fazer, ir no tour service tirar foto para fazer meu passe e meu seguro de saúde. E depois daí, direto pra cozinha para conhecer o pessoal.

Eu estava ansiosa para saber com é a vida no circo!! A impressao que eu tinha é que ia sair perguntando pra todos "o que tu fazes aqui?", "quanto tempo estás aqui?", "tu gostas daqui?". A sorte é que meu inglês estava bem ruinzinho e as pessoas, quase todas, se salvaram do meu massacre inicial!! Digo quase todas porque tinha muitos brasileiros trabalhando lá, e estes nao se salvaram :) Um dos meninos é de Porto Alegre, gente boa pra caramba! Perguntei tudo pra ele!

Eu, com minha "simpátia gerenelizada" saí dando oi pra todos que passavam pela minha frente. Recebe um oi de volta só da metade, e aí pensei: ok Fabiana, vai com calma porque nem todos são como tu. Comecei a me dar conta da mistura de cultura que é aquele lugar. Culturas essas que eu nunca havia interagido, porque na verdade Barcelona era um exercício constante de conhecer pessoas novas e aprender a lhe dar com as diferentes culturas, mas a maioria da galera era da Europa, o que facilitava. Vai dar "oi" pra um Russo, assim, do nada, só para ser simpático. Tenta e me diz. Eu desde já aposto que ele não vai dar oi e ainda vai olhar como "que que é?".

a decisao 2.

a decisao foi realmente, mas realmente difícil. Acredita.

a decisao

depois de brigas, acertos, pensamentos, devaneios, discussoes, dia 3 de abril o Fabri pegou o avião para começar a trabalhar. Quatro meses depois fui eu a pegar o avião, para ir viver com ele no circo. Apesar de todos os medos e caras a encarar, fui também. Dizer para meus pais que estava partindo outra vez, doeu muito. Dizer para meus amigos, nossa... Deixar a escola onde havia começado a trabalhar, e que adorava, foi complicado.

Acho que foi a decisão mais difícil da minha vida. Porque envolvia muita coisa. Eu corria muito mais risco que ele, porque se as coisas nao rolassem legal, ele seguiria com o trabalho dele, ou seja, não teria deixado de investir em algo dele. E para mim, se as coisas não saíssem bem, teria que começar outra vez, do zero. E isso me dava medo, mas tinha que encarar. Porque o que levava em conta aqui é que estava abrindo mão de um lado da minha vida (meu trabalho), para cuidar de outro: minha família. E todos que me conhecem sabem que sou TOTAL família.

Essa decisao veio de muita conversa com amigos, com meus pais, de alguns encontros psicanáliticos psicodélicos (ótimo porque já havia feito 4 anos de análise com ela, e foi só um reforcinho :) e claro, muito, muito, mas muito tempo pensando sozinha e fazendo levantamentos que só eu, comigo mesma, poderia fazer.

Venga! O Id estava festa! Solto do baile, dançava rock adoidado, enquanto fabi´s ego estava sentado, olhando aquela quebradeira que rock e querendo dançar! O super ego, por sua vez, encheu meu saco até nao poder mais, dizendo que era hora de baixar a música para nao encomodar os outros.

Resultado, o Id se atirou, o Ego começou a dançar com um pézinho e o super ego olhou pra mim, na entrada do avião e disse: te liga!!
Te liga tu, que me encheu o saco a vida inteira! disse Fabi para seu Super-ego. Está tudo bem pensado, não quero massacre final!

Montreal, aqui vamos nós!
Será que tudo ficaria mais fácil se eu vivesse há algumas decadas atrás? A mulher segue o homem, tem os filhos e isso tudo é natural. Uma amiga grávida me disse que sua médica falou: "aquela mulherada louca foi queimar os sutias na praça e agora nós que pagamos o pato!" Todos os momentos da História foram difíceis, porque a dúvida/escolha sempre acompanharam o Homem (a Mulher, neste caso)... mas, enfim... elas nos ajudaram e ajudam a crescer. Vamos lá. Hora de me colocar com clareza e mostrar se o que penso, tem algo que ver com os pensamentos dele. (e isso é coisa atual, poderia acontecer há décadas atrás, mas aí me chamaria Chiquinha Gonzaga, que bom que elas queimaram o sutia na praça!)


Oui, oui,ouiiiii!! Eu falei tudo como pensava e o que pensava e ele disse que também deseja ter filhos e construir uma família! Isso era perfeito, poder falar com um cara sobre isso e ele conversar como uma pessoa normal, sem sumir, sem desmaiar! Isso ia me fazendo pensar: caramba, eu estou falando com alguém sobre ter filhos e isso é o máximo, por mais que sejam planos, isso é incrível!

Tinha vontade de conhecer os pensamentos dele sobre esse assunto porque nessa época tive uma conversa com uma amiga, que está berando os 40 anos. Ela ama criança e é uma profissional incrível na área de direito, mas conhecia os caras, começavam a namorar e sempre que pintava o assunto "filhos" os caras bambeavam as pernas. Ela me disse que agora, quase 40, estava com dúvidas se poderia ter filho ou nao. Estava fazendo um tratamento porque apareceram alguns problemas no papa-nicolau. Além de tudo, começando a falar sobre isso com o novo namorado. Depois dessa conversa eu pensei ´eu nao quero isso pra mim´.

Entao foi por isso, que antes de tomar qualquer decisao eu precisava saber um pouco mais.
E assim apareceu uma luzinha no final do túnel que começou a "iluminar" mais aquele caminho que estava meio escuro.

a luz no fim do túnel 1

Eu via tudo mundo escuro, sem muitas certezas e sem muito destino, mas eu acreditava em tudo. Esse meu sentimento, nao me deixava em paz e tampouco me deixava desisitir.
Pensando comigo achei que a primeira coisa que teria que fazer era abrir o jogo. Ser valente o suficiente para dizer tudo que pensava para minha vida e se ele também queria fazer parte disso. Por exemplo, ele quer ter filhos?

Eu quero, sempre quis. Entao poderíamos começar por aí. Será que ele tem vontade de construir uma família? Claro, que tinha consciente que muitos caras odeiam falar sobre isso e alguns tem um pânico tao grande que sao capaz de desaparecer no espaço e tu nunca mais os verás! heheheh! E aí, falar ou nao?

De tudo eu só sabia uma coisa: nao tenho mais idade pra sair por aí bancando de louca apaixonada. Louca apaixonada e fugir com o cara para morar numa ilha deserta comendo peixinho fresco todo dia (pescado para nós mesmos), e claro: vivendo do amor, para sempre e por toda eternidade. Nao tenho mais idade nem pra pensar isso. Vamos ser claros. A idade pode ser um saco, mas também é linda, trás consigo uma segurança pessoal que antes nao tínhamos. Como isso que estava falando, por exemplo: eu sabia que uma das coisas é: eu quero ter filhos e quero construir uma família. Pues nada, lo mejor é falar com o cara abertamente (tendo claro na minha cabeça que ele poderia ser um daqueles que some no espaço depois dessa conversa). Mas se ele nao queria isso para vida dele, para mim nao servia. E eu precisa de alguns pontos claros para nao me machucar depois. (eu sei que nem tudo ficaria claro... mas o desse pra falar, falaria)


Coragem Fabiana, fala com calma, nao vai meter os pés pela mao e vamos lá. Em momento de dúvida temos que levantar possibilidades para tentar fazer a melhor escolha. Mas tenha claro: em alguns momentos, a escolha pode nao fazer parte do desejo, ou seja, pode ser o contrário dele.

CONTINUA NA PRÓXIMA postagem...

e agora, josé?

E agora, josé? O que fazer?
Que momento... na verdade era toda uma mescla de coisas difíceis. Voltar a morar no Brasil era para ser minha maior preocupação, toda a minha readaptação, toda a questao da volta de Barcelona, começar a buscar trabalho, um lugar para morar... Tudo muda, completamente e só quem viveu isso entende o que estou falando (morar fora e voltar para pátria amada).

Eu tive que lidar e manejar todos esses sentimentos. Voltei para fazer algumas sessoes de análise. Era muita coisa pra pensar sozinha e eu nao queria colocar os pés pela mão. Tudo que cresci vivendo em Barcelona só me fazia pensar uma coisa: cuida de ti, pensa em ti e a ajuda é sempre bem vinda. Nao somos donos da verdade e nao sabemos tudo, e aí fui procurar um espaço para pensar melhor.

Quando cheguei na terapia, me lembro de dizer: "preciso de um intensivo, me dá nos dedos como nunca deste na vida de ninguém, analisa, interpreta, mete o pé na jaca! nao quero rodeios, quero pontos para trabalhar e pensar, quero um foco!" e foi assim que fomos tentando trabalhar tudo. Ela metendo o pé na jaca com uma super educaçao psicanalítica e eu organizando as coisas para poder lhe dar com tudo, fazendo da jaca a minha pantufa!
Eu nao estava num momento tranqüilo. Eu e o Fabri conversamos muito, discutimos muito, brigamos, mas a coisa foi se arrumando. Difícil, complicada. A única certeza era que ele partiria dia 3 de abril. E eu nao podia acreditar nisso.
Porque estou num relacionamento destes se acabo de voltar para o Brasil? Vou sair daqui outra vez?
O que quero com tudo isso? Procuro emprego ou largo tudo pra sair com ele?
O Fabri se mostrava sempre o cara incrível que queria pra mim, mega sensível, educado, adora provar comida diferente e estranha, dorme com camiseta de pijama, usa bombacha, é um gato e toma chimarrao todos os dias. Que mais eu queria pra mim? Tudo de simples e tudo de bom.
Era momento de pensar, pensar e pensar. A única coisa que eu sabia era: nao vou parar minha vida para pensar nisso. Vou seguir e tentar encontrar o melhor caminho para que tudo saia bem.
E agora, José?

coração na mão

Feliz da vida com minha família e meus amigos, mas com o coraçao na mao sem saber do destino do Fabri. Pra mim, se ele viésse para o Brasil, seria a melhor coisa do mundo. Ter ele pertinho. Mas vamos lá que nossa vida nao é perfeita e nem tudo acontece como planejado. Eis que toca o telefone.
Era ele! Uma voz super feliz dizendo que tinha uma novidade!
Eu fiquei toda emocionada e feliz também, esperando que ele falasse o que era!
Ele tinha conseguido o trabalho na turne que estava começando no Canadá e em seis meses iria para os EUA!
Bummmm!! Meu mundo caiu. Foi como se joga-se um balde de água fria na cara. Quem é esse cara pra ficar feliz sabendo que está indo pra longe de mim??? (ps: narcista eu?? sai pra lá, é só teu pensamento, hehe) Pedi para falármos depois, porque naquele momento nao tinha mais o que conversar.
Desliguei o telefone puta da cara, nao sabia o que dizer.
Estava indo encontrar meus amigos.
Todos me viram com aquela cara de enterro. Expliquei o que tinha acontecido, mas nao queria falar sobre isso, depois teria que pensar sozinha o que significava tudo, a minha atitude, a atitude dele, os meus sentimentos de raiva naquele momento.
Sorte que penso comigo. Porque depois de ficar P. da vida, pude ir me acalmando. Pensando e repensando tudo isso.
Porque ele estava feliz de ter conseguido o trabalho, sabendo claramente que isso nos afastaria?? Ele gostava de mim tanto quanto dizia ou era lorota? LOROTA. Era lorota. Grrrrhghgh!!
"Fabiana, tu precisas falar com ele...." disse eu ego. "...calma, nao começa processo psicótico que nao vai adiantar."
Precisa falar com ele. Entender tudo, saber tudo e, os dois, abrirem o jogo. Afinal, que pasa?
Conversamos, acho que no outro dia (nao lembro bem) e aí fui entender a felicidade. Lembra que ele estava concorrendo para duas vagas de trabalho? Uma turne estava indo pra Europa e a outra pros EUA. Se ele conseguisse o trabalho da que estava indo pra Europa, nao nos veríamos mais... da Bélgica ele seguiria direto com o outro circo. A vaga do tour nos EUA daria direito a ele ficar 3 meses no Brasil, só começaria a trabalhar em abril (estávamos em Dezembro). Afinal, foi essa última vaga que ele conseguiu. Ele estava vindo para o Brasil em para o Reveillon!

Ah, sim, esqueci de comentar. Ele disse que iria para a Rússia, aprender russo e depois para o Brasil. Mas isso foi logo que nos conhecemos, porque depois dos dois meses que tivemos juntos, essa história foi desaparecendo e, sem eu falar nada, ele nunca mais tocou no assunto! Desistiu por ele mesmo. Até porque sempre que falava disso eu dizia: nossa, acho que pode ser uma experiência ótima! Mas ele nao foi, preferiu passar mais tempo no Brasil para ficármos juntos!
Bom? Nao sabia o que pensar. Feliz? Claro que estava feliz, mas em dúvida com isso tudo.

pausa para um comentário

nao sei se todos perceberam, mas tive uma pausa de um ano sem escrever. Um ano atrás eu criei esse blog, mas parei com tudo. Escrevi algumas coisas, e nao deixei o blog com caráter público (nao queria compartilhar os textos). Sentia falta de algo. E agora tenho.
a cabeça livre para escrever o que quero. e mais: algumas certezas que antes nao tinha, bem como uma capacidade muito maior de lhe dar com as incertezas :)
e isso é bom, muito bom!

volta a Barcelona

Estava pronta para arrumar a casa, e feliz para receber minha família! 

Meu querido colega de apartamento foi embora de madrugada, estava voltando para o Brasil (mais uma etapa que se fechava), e pela manha, cedinho, eu fui no aeroporto buscar a família!

Passei dias maravilhosos com eles em Barcelona! Uma de minhas maiores alegrias é poder mostrar Barcelona para pessoas que gosto. Apesar de ter muito o que conhecer, meus dois anos morando lá foram incríveis e muito conheci e disfrutei daquela cidade! Além de ter conhecido amigos queridos que até hoje levo no meu coraçao e estao presentes na minha vida!

Duas malas despachadas pelo meu pai e minha avó, mais outras duas que levei comigo!

Pronta para voltar ao Brasil, mas com um aperto no coraçao por nao saber quando veria ao Fabri novamente :/ Deixar Barcelona foi uma dor. Eu amo essa cidade e viveria lá sempre, mas escolhi por estar perto de minha família. 

Fui embora da europa deixando o Fabri e Barcelona. Cheguei no Brasil sem nenhum mala, haviam perdido as duas! Mas estava feliz da vida, porque pra mim, tudo aquilo era material. Eu só queria ver minha família e meus amigos!

Meu mano estava morando em Buenos Aires e, depois de uma semana no Brasil, fui fazer uma visita! A cidade é linda! Continuava em contato com o Fabri por e-mail e telefone, mas ainda sem saber nada do destino dele.

Bélgica mais uma vez!

Uma semana depois de voltar da Bélgica estava completamente eufórica, feliz e arrumando a casa para esperar meu pai, minha avó e minha tia avó que viriam para BCN 15 dias! Tinha que ir arrumando para a desocupaçao da casa, porque no dia que eles fossem embora, teria apenas dois dias para deixar o apartamento!

Eu tinha tudo! Taças, copos, pratos, talheres, panela, roupa de cama, tudo! Foi tao difícil me desfazer de tudo isso. Queria levar para o Brasil. Mas nao dá, temos que escolher. Pronto. Escolhas, novamente e constantemente. Sempre temos que escolher. Uma parte vendi, outra grande parte deixei para amigos queridos que cuidariam daquilo tudo com carinho!

Em conversas e e-mails surgiu a possibilidade de ir outra vez para Bruxelas e de lá pegar um trem com o Fabri para Amsterdan. Fiquei tentada pela proposta. Fui procurar passagem e encontrei alguma coisa barata. Deixei para comprar depois porque precisava sair rápido e nao tinha certeza se queria gastar essa grana ou nao.

Quando voltei, já nao havia mais passagem barata. Mandei um e-mail pro Fabri falando que nao tinha certeza se ia ou nao, mas que ia esperar para ver se baixava. Em pouco tempo recebo o e-mail mais lindo que ele já havia me mandado, cheio de declaraçoes e rimas, cheio de amor e palavras lindas que fariam qualquer um comprar passagem pra China para ir ve-lo! Jogo baixo! Caí! heheheh!

Fui para Bélgica e foi incrível outra vez. Estivemos em Amsterdan juntos, lindo! Tomamos chimarrao, escutamos música brasileira, falamos da vida, andamos de maos dadas, comemos um dos melhores sushi de nossas vidas, vi que ele gostava desses restaurantes pequeninos, exatamente como eu gosto, me apaixonei mais.

Mas outra vez sem saber o que fazer, sem saber o que pensar, sem saber como vai terminar. Só vivendo de amor! Voltei para casa (Barcelona) com saudade.

Bélgica

Arrumei minha mala, poucas coisas. Poucas mesmo, fiquei surpresa comigo. Fui para Bélgica visitar o Fabri. Foi incrível! Romance total! Tudo era lindo, por mais que o tempo estivesse ruim, o amor sobressaltava tudo!! Como ele mesmo me disse num e-mail... mesmo com um frio de rachar, caminhávamos de maos dadas com dedos congelando!

Vive uma semana calma, de paz e tranqülidade. Tudo foi muito bem. Conheci mais a fundo um pessoal do circo, pessoas muito queridas e senti uma vibraçao ótima de todos que trabalhavam por lá.

Ir embora de isso tudo foi difícil. Sem falar nada, sem saber quando o voltaria a ver, sem saber em que parte do mundo estaria. Mas voltei para Barcelona feliz. Porque vi, naquele momento, que nao tenho o controle de tudo que quero e que vou ter que aprender a viver assim. (por mais que queira ter o controle). Estava numa calma que nao me reconhecia. Fui embora sem chorar, dei uns presentinhos com uma carta, ele leu e quem chorou foi ele.

Apesar do primeiro espanto, fiquei feliz de nao me reconhecer. Isso significava ter algo de diferente em mim. E aquela vontade de mudar e crescer, estava dando certo. É engraçado quando a gente diz (ou pensa) "essa nao sou eu". Claro que é! Ô ô ô... quem mais seria?? És tu, melhor ou pior! Nesse caso, melhor :) que bom!

Voltei para Barcelona sem saber o que aconteceria. Nem ele sabia o seu próprio destino, porque o contrato no circo estava terminando, mas ele havia se candidatado a duas outras vagas (no circo).

"O que será o amanha, responda quem pudér."