do difícil ao olho mais pra lá

Depois do primeiro dia, assisti ao show quase todos os dias, trabalhando. Comecei a ter mais contato com o Fabri (meu chefe brasileiro). Nossa, gente boníssima! Conversa vai, conversa vem, sempre tínhamos pessoas em comum, festas em comum que haviamos estado, momentos em comum. E, inacreditável, a data de nascimento também era "em comum".

Nascemos no mesmo dia, mesma ano, mesma hora. 40 minutos de diferença. Isso deu uma mexida na minha imaginaçao e nos meus pensamentos. Parecia uma coisa meio mágica, meio fora do normal. Mesmo mês, mesmo dia, mesmo ano?? Quando perguntei a que horas ele tinha nascido e vi que eram 40 minutos de diferença... nossa! Olhei pra ele mais fundo e vi uma coisa que nao tinha me chamado a atençao ainda: ele tem um olho um pouquinho estrábico, e eu acho isso um charme! Sério, acho super atraente!

Porque eu nao notei o "estrabismo" antes?

Eu estava num momento super turbulento na minha vida pessoal em Barcelona. Pessoas super mal educadas que foram morar na minha casa, nível 0. Quase perdi o apartamento pela maconha que fumavam grudadas na janela dos vizinhos, pela falta de educaçao e postura, e pelas dívidas que deixaram para eu pagar. Finalmente, consegui mandar embora essa galera. Era ou elas fora do apartamento, ou todos. Por essa minha postura, fui julgada por algumas pessoas que, desde entao, decidi corta las da minha vida. Nao cortar completamente, isso nao. Mas cortar a confiança que, um dia, tive por elas. Tive que deixar de lado algumas amizades. Neste momento, estava sozinha. Meu amigo, que dividia apartamento comigo na época se colocou numa posiçao neutra, o que admirei e respeitei, mas coitado, passou por poucas e boas lá dentro.

Eu cresci pra caralho nessa época. Tive que ficar sozinha e lidar com todos os meus erros, minhas certezas e incertezas, minhas conquistas e derrotas, sem dividir isso com ninguém, sem conversar com ninguém e, minha maior decisao, parando de acusar e delegar falta a alguém. Olhando para mim e vendo que a única coisa boa que poderia tirar dessa merda toda seria fazer uma avaliaçao da minha postura e pensar o que eu deveria mudar. Porque avaliar os outros, nao ia valer de nada, e mais, ia me fazer menor, pequena, e nao era o que estava buscando.

Eu fui para Barcelona para voltar maior, interiormente. E o caminho mais correto e duro era a auto-avaliaçao constante dos meus atos e minhas atitudes. Por incrível que pareça eu aumentei 3.5 centímetros na altura e meu pé foi do 35 para o 36/36,5. Meu crescimento estava se refletindo no meu físico. Nao pergunte como nem porque, eu nao sei dizer. Quando eu saí do Brasil minha altura era de 1,56. Voltei com 1,60.

 Para resumir a história do apartamento, fui me desculpar com os vizinhos dizendo que nunca mais aconteceriam situaçoes parecidas, conversei com o pessoal da imobiliária (que sempre confiaram no meu cuidado e responsabilidades com o ap). Além disso tudo eu estava vivendo um "romance" que nao estava dando certo e estava mais focada em sair disso que em procurar alguém. Um turbilhao! Mas como diria nosso grande poeta: "há sempre um novo amor em cada novo amanhecer". Eu entao, passei da escuridao da noite para o amanhecer do dia e, finalmente, pude ser atraída pelo "olhinho mais pra lá", que eu gosto tanto.

Estar trabalhando diretamente com a arte foi o que me deu forças para agüentar tudo que passei nesse mês. Voltava do circo carregada de energia e com a certeza de que tudo se resolveria. E seu resolveu! Melhor do que eu pensava!

Quanto as meninas e amizades faladas atrás? Com o tempo as mascaras daquelas meninas foram caindo e, hoje sei, estes amigos que as protegeram, tem outra opiniao. Mas minha confiança quanto as minhas amigas, nao voltou. Posso ver no olhar dessas pessoas que elas sabem que estavam equivocadas no julgamento que fizeram de mim, e essa é minha alegria: nao precisei mexer uma palha e falar mal de ninguém, as meninas, por si só, mostraram quem sao. Esse foi meu maior aprendizado. Se alguém está errado, isso aparecerá, espera e verás. Por mais longa e doída que pode ser a espera.

2 comentários:

  • Roberta | 15 de abril de 2011 às 08:31

    Poxa, legal ler tuas histórias e constatar que Barcelona provocou alguns aprendizados dos quais compartilho:"Tive que ficar sozinha e lidar com todos os meus erros, minhas certezas e incertezas, minhas conquistas e derrotas, sem dividir isso com ninguém, sem conversar com ninguém e, minha maior decisao."
    Eu sei que é para o nosso crescimento, mas como é difícil lidar com esse turbilhão de emoções e não ter com quem dividir.
    Luz no teu caminho que eu tb estou buscando luz no fim do túnel
    beijo

  • Fabi | 15 de abril de 2011 às 19:06

    Oi Roberta!
    Que bom ler teu comentário!
    Acho que o mais bonito das nossas aventuras aqui fora é o crescimento que temos. Lidar com nós mesmos é tarefa difícil. Uma vez que conseguimos (aos trancos e barrancos) vamos nos tornando "senhores de nós mesmos", e isso é lindo! Logo vou postar um artigo sobre isso! Sorte pra ti tb, espero te ver mais por aqui! Seja bem-vinda!